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Estudo inédito do Departamento de Medicina Preventiva  aponta que 54% dos adultos brasileiros são suscetíveis a complicações do novo coronavírus

 Portal Grupo de risco covid 19
(Imagem ilustrativa)

A Organização Mundial da Saúde sugere que 80% das pessoas infectadas pelo novo coronavírus podem desenvolver quadros leves ou assintomáticos da covid-19, enquanto os 20% restantes estão propensos a complicações e, portanto, podem necessitar de hospitalização (14%) ou unidade de terapia intensiva (6%). Estudos iniciais apontavam as seguintes características do grupo de risco: idosos (≥65 anos) e portadores de doenças crônicas (doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão, doenças respiratórias crônicas (em particular doença pulmonar obstrutiva crônica - DPOC), câncer e doenças cerebrovasculares (acidente vascular cerebral - AVC). Estudos mais recentes realizados nos Estados Unidos e da Europa confirmaram esses resultados e propuseram novos fatores de risco, como doença renal crônica, obesidade, asma e tabagismo.

O estudo brasileiro, liderado pelo epidemiologista e professor da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) Leandro Rezende, utilizou dados de 51.770 participantes da Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE e Ministério da Saúde) para estimar quantos adultos estão suscetíveis a complicações, caso venham a se infectar pelo novo coronavírus. Os autores calcularam a proporção e o número de adultos (≥18 anos) que apresentam um ou mais fatores de risco, isto é, idade, doenças crônicas, obesidade ou tabagismo. As estimativas foram calculadas segundo sexo, raça/cor da pele, escolaridade (uma variável bastante relacionada com o nível socioeconômico) e unidades federativas do Brasil (26 estados e o Distrito Federal).

A proporção de adultos sob risco de complicações por covid-19 variou de 34% (53 milhões) a 54,5% (86 milhões) em todo o país. Independentemente da idade, a proporção de adultos com pelo menos um fator de risco foi alta: 47% em adultos (<65 anos) contra 51% em idosos (≥65 anos). 

Adultos com menor escolaridade, isto é, aqueles que tinham o primário incompleto, estão mais vulneráveis a complicações pela covid-19 comparados àqueles com nível superior completo (grupo de risco: 66% primário incompleto contra 27% superior completo). O estudo não encontrou diferenças nas proporções de grupo de risco segundo sexo e raça/cor da pele.

As maiores proporções de adultos no grupo de risco foram encontradas no Rio Grande do Sul (39,5% - 58,4%), Rio de Janeiro (36,0% - 55,8%) e São Paulo (35,6% - 58,2%). Estados com menor proporção foram Amapá (23,4% - 45,9%), Roraima (25% - 48,6%) e Amazonas (25,1% - 48,7%). Considerando o tamanho da população, o maior número de adultos suscetíveis a complicações foi observado em São Paulo (12 a 17 milhões), Minas Gerais (6 a 9 milhões) e Rio de Janeiro (5 a 7 milhões). 

Principais resultados:

- Grupo de risco para covid-19 grave: idosos, portadores de doenças crônicas, obesos e fumantes;
- No Brasil, de 34% (53 milhões) a 54% (86 milhões) dos adultos (≥18 anos) estão no grupo de risco;
- 47% dos adultos com menos de 65 anos também apresentam um ou mais fatores de risco para covid-19 grave;
- Fatores de risco foram duas vezes mais frequentes em adultos com primário incompleto (menor nível socioeconômico) do que em adultos com nível superior completo;
- São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande de Sul são os estados com maior grupo de risco.

Título do artigo: Adults at high-risk of severe coronavirus disease-2019 (COVID-19) in Brazil
Autores: Leandro F. M. Rezende, Beatriz Thome, Mariana Cabral Schveitzer, Paulo Borges e Célia Szwarcwald