56,4% de adultos da cidade de São Paulo são mais suscetíveis a complicações pela infecção pelo novo coronavírus, e essa proporção não é igual nas diferentes regiões
(Imagem ilustrativa)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere que 80% das pessoas infectadas pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) podem desenvolver quadros leves ou assintomáticos da covid-19, enquanto os 20% restantes estão propensos a complicações e, portanto, podem necessitar de hospitalização (14%) ou unidade de terapia intensiva (6%). Estudos apontam para as seguintes características como grupo em risco de doença mais grave: idosos (≥65 anos), portadores de doenças crônicas tais como doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão, doenças respiratórias crônicas em particular doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e asma, câncer e doenças cerebrovasculares (acidente vascular cerebral - AVC), renal crônica, obesidade e tabagismo. Ao mesmo tempo, a literatura sugere que o impacto da pandemia tem se dado de forma desigual na população, e alguns grupos apresentam vulnerabilidades que os deixam em situação de risco para resultados piores frente a infecção pelo novo coronavírus, sejam essas vulnerabilidades biológicas ou socioeconômicas.
Estudo do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo, aceito para publicação na Revista Brasileira de Epidemiologia, utilizou dados de 3.390 adultos (≥18 anos) participantes do Inquérito de Saúde do município de São Paulo (ISA-Capital 2015) para estimar quantos adultos estão suscetíveis a complicações, caso venham a se infectar pelo novo coronavírus, e como essa distribuição de risco varia de acordo com dados socioeconômicos e região da cidade. Os autores calcularam a proporção e o número de adultos (≥18 anos) que apresentam um ou mais fatores de risco (entre aqueles disponíveis no inquérito): idade ≥65 anos, doenças crônicas, obesidade ou tabagismo. As estimativas foram calculadas segundo sexo, raça/cor da pele, escolaridade, renda, acesso ao plano de saúde e regiões do município de São Paulo (norte, centro-oeste, sudeste, sul e leste).
Dentre os principais resultados do estudo estão:
- Em São Paulo, 56.4% (4.7 milhões) dos adultos (≥18 anos) estão no grupo de risco;
- 51% dos adultos <65 anos também apresentam 1 ou mais fatores de risco para covid-19 grave;
- Fatores de risco foram mais frequentes em mulheres, adultos com baixa escolaridade e moradores da região sudeste da cidade de São Paulo.
A proporção de adultos sob risco de complicações por covid-19 foi estimada em 56.4% (4,7 milhões) na cidade de São Paulo. Independentemente da idade, a proporção de adultos com pelo menos um fator de risco foi alta: 51% em adultos <65 anos v.s. 80% em idosos (≥65 anos). Adultos com menor escolaridade estão mais vulneráveis a complicações pela covid-19 comparados àqueles com maior escolaridade (grupo de risco: 86% nenhuma educação formal v.s. 49% nível superior ao menos iniciado). Mulheres (58%) apresentaram maior prevalência de um ou mais fatores de risco para covid-19 grave do que os homens (54%). As maiores proporções de adultos no grupo de risco foram encontradas na região sudeste (59.8%; 1.3 milhão de adultos), norte (58.7%; 1 milhão de adultos) e centro-oeste (53.8%; 674 mil adultos).
A desigualdade encontrada na distribuição de fatores de risco para covid-19 mais grave pode ajudar a explicar as diferenças encontradas nas taxas de mortalidade nas regiões de São Paulo. Esse estudo, portanto, contribui também para a reflexão acerca das desigualdades de saúde históricas e seu impacto nas populações durante a pandemia pelo Sars-CoV-2. Acesse o artigo científico com os resultados aqui.