Realizada em parceria com a USP e a Unesp, pesquisa mostra associação entre redução de capacidade aeróbica durante testes físicos e espaços mortos alveolares
Por Valquíria Carnaúba
Apesar de o Brasil ter decretado o fim da emergência sanitária, muitos pesquisadores continuam avaliando as sequelas da covid-19 no organismo humano. Um dos focos comuns dos estudos é a chamada covid longa, caracterizada por alterações fisiológicas permanentes após 12 semanas da infecção aguda, como fadiga, falta de ar e dor muscular. Na Unifesp, uma pesquisa desenvolvida no (SEFICE/Unifesp), em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), começa a trazer dados que associam redução na capacidade aeróbica durante testes físicos e espaços mortos pulmonares, uma relação que ainda não estava muito clara.
Liderado na Unifesp por Eloara Campos, professora adjunta da disciplina de Pneumologia, o estudo acompanha, desde 2020, a recuperação funcional de 100 pacientes do Hospital São Paulo, hospital univeristário (HSP/HU Unifesp), acometidos pela covid-19. "Quando começou a pandemia, nosso setor se uniu a outros dois grupos na área de pneumologia da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), liderados pelos pesquisadores André Albuquerque e Suzana Tanni, com o objetivo de identificar as sequelas pulmonares a longo prazo (1 ano)", conta a docente.
Os recuperados pós-covid considerados no estudo, dentre os 600 internados no HSP/HU Unifesp, foram submetidos a avaliações por ecocardiograma, tomografia de tórax, prova de função pulmonar completa (espirometria, volumes pulmonares de difusão de dióxido de carbono), força muscular respiratória periférica, e teste de exercício cardiopulmonar com avaliação de trocas gasosas (por gasometria arterial coletada em repouso e exercício).
Cada um dos pacientes foi acompanhado individualmente em intervalos regulares, perfazendo quatro visitas: pós-alta, após três meses, após seis meses e após um ano. E, segundo a pesquisadora, os resultados após três meses já mostram uma relação direta entre baixo desempenho (redução no consumo de oxigênio) durante o teste de exercício, avaliação feita pela espirometria, e aumento dos espaços mortos alveolares (áreas pulmonares que não participam das trocas gasosas durante a respiração).
De acordo com Campos, essas informações complementam estudos anteriores, que em sua maioria atribuem a redução da capacidade aeróbica apenas ao descondicionamento físico. "Isso é muito simplista, pois trata-se de uma doença muito complexa para acreditarmos que somente a perda muscular durante a internação estaria envolvida na persistência de sequelas pós-covid. Há ainda poucos estudos robustos que analisam a fundo a fisiologia do exercício de pacientes que contrairam o cornavírus".
A pesquisa está em fase de submissão dos resultados, obtidos após essa avaliação das sequelas três meses a partir de testes de exercício cardiorespiratório. Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), já foi aprovado no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (ReBec). A coleta total de informações será finalizada ao longo de 2022.