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Agravamento da situação e dificuldade de acesso aos recursos devem afetar vagas de emprego e até fechamento dos negócios, indica estudo da Unifesp

Por Denis Dana

PesquisaPandemia e MPEs portal
(Imagem ilustrativa)

Em meio à profunda crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus, as micro e pequenas empresas brasileiras foram responsáveis por gerar mais de 293 mil novos empregos formais entre janeiro e dezembro de 2020, enquanto que as médias e grandes empresas foram na contramão, extinguindo 193,6 mil postos de trabalho. Contudo, com o avanço da pandemia e falta de maior apoio, boa parte desses geradores de emprego devem retroceder, trazendo um cenário ainda mais preocupante para o país. É o que revela um levantamento realizado pelo Departamento de Economia da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Universidade Federal de São Paulo (Eppen/Unifesp) - Campus Osasco.

A pesquisa envolveu a entrevista de 50 empreendedores de micro e pequenas empresas e identificou que 57% desses empresários declaram já ter demitido trabalhadores(as) desde o início da pandemia, e que parcela expressiva deverá demitir mais nos próximos meses, com sérios riscos de encerrarem suas atividades.

“Para chegar aos dados, a pesquisa se debruçou sobre os diversos programas de apoio ao segmento oferecido nas esferas federal, estadual e municipal. Assim, conseguiu-se identificar que boa parte dos(as) proprietários(as) de pequenos negócios demonstraram um baixo nível de conhecimento sobre estes programas que visam à manutenção de emprego e salários e programas de empréstimos a juros baixos ou subsidiados, o que demonstra um importante obstáculo para a sequência de seus negócios em tempos de maior dificuldade”, diz Luciana Rosa de Souza, professora do Departamento de Economia da Eppen/Unifesp e coordenadora da pesquisa.

Para melhor avaliação, o levantamento aconteceu com as entrevistas realizadas de duas formas. Uma foi via formulário do Google com um conjunto de 12 questões, que mediam desde o tamanho da empresa até as dificuldades durante a pandemia. A segunda foi uma coleta de entrevistas em profundidade, que foram gravadas e transcritas. Nelas, os empresários puderam trazer seus relatos livremente e em tom de desabafo. Usou-se o método de exaustão, quando se observa a recorrência de temas e falas entre os diferentes entrevistados(as).

Para a docente da Unifesp, “o levantamento é essencial para que se possa entender melhor as ações federais para combater os impactos do isolamento social sobre os pequenos negócios, justamente aqueles que são mais vulneráveis e, ao mesmo tempo, maiores geradores de emprego e renda no país. Nesse sentido, as entrevistas mostraram baixo conhecimento dos programas por parte dos micro e pequenos empresários, além de muitas dificuldades para acesso aos recursos, tendo como relevante entrave a apresentação das garantias contratuais exigidas.”

“Trata-se de um claro sinal sobre a importância de se executar uma boa política pública que possa atender pequenos negócios, aqueles que devem assumir protagonismo na retomada do crescimento econômico, dos níveis de emprego e de renda no país. Há muito que aprimorar no desenho das ações para minorar os impactos do isolamento social sobre os pequenos negócios”, destaca Luciana.

De acordo com a professora da Unifesp, “uma das mais importantes recomendações é a busca por uma ação mais multissetorial, englobando governos locais, sindicatos, associações patronais e representantes dos Estados e de municípios, ou seja, uma política "bottom up" (desenhada de baixo para cima). Como a crise sanitária parece ainda distante do seu fim, os efeitos das dificuldades enfrentadas por estas empresas continuam a ser sentidos, e esse trabalho em conjunto é crucial para sairmos da recessão econômica e da crise social”, conclui.