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Achado inédito sobre partícula viral da infecção na retina pode ser útil sobre a presença do vírus em outras partes do organismo, causando doenças

Mark Arron SmithPexels portalCAPA
(Imagem Ilustrativa)

Um estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e publicado nesta quinta, 29/7, no periódico JAMA Ophthalmology, conseguiu identificar a presença de partículas do Sars-CoV-2, o vírus da covid-19, na retina de pacientes acometidos pelo novo coronavírus. Para Rubens Belfort Jr., professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (EPM/Unifesp) e coordenador da pesquisa, conjuntamente com Wanderley da Silva, da UFRJ, “a descoberta revela um biomarcador importante talvez relacionado à presença do vírus em outras partes do organismo e causador de outras doenças provocadas pelo coronavírus”.

Para fazer essa identificação, em junho e julho de 2020, os pesquisadores realizaram enucleação post mortem de olhos, usando tecnologia de transplantes de córnea, e relacionaram os achados clínicos com os obtidos por imunofluorescência, imuno histoquímica e processamentos de microscopia eletrônica de transmissão na retina de pacientes que estavam internados em hospital e que faleceram em decorrência da gravidade da covid-19.

“As proteínas do vírus foram observadas nas células endoteliais, próximo à chama capilar e às células das camadas nucleares interna e externa da retina. Na região perinuclear dessas células, foi possível observar por microscopia eletrônica de transmissão, vacúolos de membrana dupla consistentes com o vírus", explica Rubens Belfort Jr., que também é presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM).

Para os pesquisadores, a presença dessas partículas virais não só reforça possíveis manifestações clínicas oculares da infecção, como acende um importante sinal de alerta para a possibilidade de o vírus estar diretamente relacionados a diferentes formas da doença, inclusive, neurológicas pelas semelhanças com a retina, além da possibilidade de se constituírem santuários de persistência viral.

“Agora, está claro que após a infecção inicial no sistema respiratório, o vírus pode se espalhar por todo o corpo, atingindo diferentes tecidos e órgãos. Assim, as descobertas podem ajudar a elucidar a fisiopatologia do vírus e seus mecanismos etiológicos, o que pode permitir melhor entendimento das sequelas da doença e pode direcionar alguns caminhos de pesquisas futuras”, conclui Belfort Jr. e Wanderley de Souza.