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Trabalho também estimou que a melhora observada na qualidade do ar evitou 802 mortes prematuras por doenças cardiorrespiratórias

Por Daniel Patini

pesquisa poluição do ar portal
(Imagem ilustrativa)

As medidas de isolamento social adotadas para a contenção da disseminação do novo coronavírus tiveram impacto significativo na redução de poluentes atmosféricos na cidade de São Paulo, segundo pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) publicada no periódico científico internacional Sustainability. Durante o período de 90 dias analisado em 2020, em comparação com o mesmo intervalo de tempo em 2019, houve uma queda na poluição do ar de 58% de dióxido de nitrogênio (NO₂); de 46% de material particulado com até 2,5 micrômetros de diâmetro (MP2,5); e de 45% de material particulado com até 10 micrômetros de diâmetro (MP10). 

A pesquisadora Simone Miraglia, docente do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) - Campus Diadema, exemplifica o tamanho da partícula desses poluentes atmosféricos. "O MP2,5 é mais fino que a espessura de um fio de cabelo. Essas partículas inaláveis conseguem penetrar de maneira mais profunda no sistema respiratório, podendo alcançar os alvéolos pulmonares. Portanto, quanto menor o tamanho da partícula, maior o risco à saúde", alerta.

O trabalho também estimou que a melhora observada na qualidade do ar evitou 802 mortes prematuras decorrentes de doenças cardiorrespiratórias – sendo 78 por MP10, 337 por MP2,5 e 387 por NO₂. Considerando somente os óbitos evitados por dióxido de nitrogênio, poluente com maior diminuição constatada, houve uma economia de 720 milhões de dólares em custos relacionados à saúde. Além disso, chegou-se à conclusão de que as 5.623 mortes causadas pela infecção nos meses investigados representaram uma perda econômica de 10,5 bilhões de dólares.

Segundo Miraglia, esses resultados eram esperados pelo fato de a mobilidade ter se reduzido expressivamente durante o início da pandemia em São Paulo. "Nada exclui ou ameniza o impacto trágico da pandemia, mas creio que o importante é aproveitarmos a experiência desse evento inusitado para planejar políticas públicas que protejam a população dos eventos adversos em saúde associados à poluição do ar. Ou seja, diminuir deslocamentos veiculares (combustão) é viável e isso protege vidas". 

Metodologia

Para calcular a média semanal dos poluentes, foram coletadas as concentrações de MP10, MP2,5 e NO₂ entre os dias 16 de março e 14 de junho de 2020 e de 2019, para efeitos de comparação, de acordo com a disponibilidade de dados de 15 estações automáticas de monitoramento da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), disponibilizados pelo Sistema de Informações de Qualidade do Ar (Qualar).

Com base nos resultados de redução da poluição do ar durante a quarentena, foram estimados o risco relativo e as mortes evitadas atribuídas a cada poluente, adotando coeficientes de regressão de estudos epidemiológicos, um método bem estabelecido usado para estimar os resultados da poluição do ar em saúde. A média diária da mortalidade por todas as causas no período de controle (2019) foi calculada e multiplicada pelos fatores atribuíveis para estimar a mortalidade por todas as causas evitadas por dia durante o período de quarentena. 

A última atualização de todas as causas de mortalidade diária entre março de 2019 e junho de 2019 foi coletada do Banco de Dados do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Já os dados diários de mortes por covid-19 foram obtidos do banco de dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE).

Por fim, para estimar o impacto econômico da quarentena, relacionando mortalidade por covid-19 e custos econômicos, foi utilizado o valor estatístico de uma vida (sigla em inglês VSL - value of a statistical life). O mesmo cálculo foi usado para estimar as mortes evitadas relacionadas às emissões de poluentes atmosféricos. O VSL estimado foi de 1,88 milhão de dólares para cada morte.