Análise é do cardiologista Renato Lopes e da intensivista Flávia Machado, que fazem parte da Coalizão Covid-19 Brasil
Por Pedro Di Biasi
(Imagem ilustrativa)
Um estudo do grupo Coalizão Covid-19 Brasil trouxe mais dados que mostram a ineficácia da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Publicado no The New England Journal of Medicine, o trabalho foi assinado por 35 médicos, incluindo dois professores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): a intensivista Flávia Machado e o cardiologista Renato Lopes.
A Coalizão Covid-19 Brasil é formada por oito instituições: Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).
Nesse levantamento mais recente, o foco foi em indivíduos com covid-19 que apresentam sintomas classificados de leves a moderados, uma vez que pesquisas anteriores já revelaram a falta de eficácia da hidroxicloroquina em pacientes graves. Os indivíduos foram divididos em três grupos que receberam diferentes tratamentos: um usou a hidroxicloroquina; outro recebeu o medicamento em combinação com o antibiótico azitromicina; e o último não usou nenhuma das duas drogas.
Os dois especialistas da Unifesp comentaram os resultados no programa de rádio Ao Ponto.
“Em relação à hidroxicloroquina, particularmente, agora temos uma resposta que, caminhando do risco leve até o risco grave, dentro do hospital, não observamos benefício”, explica Renato Lopes. “Observamos isso tanto no nosso estudo da coalizão quanto em outros internacionais, que mostram a mesma falta de eficácia.”
Flávia Machado destaca que, apesar de alguns casos de efeitos adversos nos usuários da hidroxicloroquina, a razão principal para não recomendar o medicamento é sua comprovada ineficácia no tratamento. Ela acrescenta que a hora é de buscar outras opções mais promissoras: “A coalizão está com uma mente muito aberta em buscar soluções múltiplas. O nosso foco é buscar soluções que efetivamente ajudem a reduzir a mortalidade dos pacientes.”
Até mesmo antes da pandemia do novo coronavírus havia estudos sobre a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento de infecções virais, que já indicavam que o medicamento não trazia benefícios como antiviral. “Ela foi testada em outras infecções virais, como ebola, H1N1 e outros vírus do passado, e não funcionou também”, exemplifica o Lopes.
Os especialistas citaram outros estudos que estão sendo desenvolvidos, inclusive usando grupos que contraíram a covid-19, mas não foram hospitalizados. No entanto, Machado lembra que todas as frentes precisam ser estudadas. “Mesmo que encontremos um medicamento que funcione para o paciente não hospitalizado, durante muito tempo nós vamos ter pacientes graves nos nossos hospitais, e temos que focar neles também. Precisamos encontrar tratamentos que reduzam o risco de óbito e melhorem a qualidade de vida”, salienta.
Com a situação delicada da pandemia no Brasil e a percepção errônea da hidroxicloroquina como solução, os médicos vivem dificuldades constantes quando precisam fazer recomendações a seus pacientes.
Mesmo assim, ambos os professores reafirmam que as evidências são claras e guiam suas orientações. Quando recebem alguém que contraiu o novo coronavírus, recomendam que a pessoa não use a hidroxicloroquina como tratamento. E os dois médicos também fazem coro quando estimulam esses pacientes a participar dos estudos da coalizão, a forma mais eficiente para alcançar respostas confiáveis no combate à doença.